* Samuel dos Santos
Após a madrugada de domingo do dia 27 de janeiro, a sociedade brasileira, com uma forte dor no peito e a sensação de fracasso, abre os olhos para uma realidade em que convivemos há décadas e damos pouca importância, nosso sistema público de gestão da segurança contra incêndio, como na saúde, na segurança, na educação... Estão abandonados pelo poder público.
A sociedade entendeu, tardiamente, que fingir que temos política de segurança contra incêndio custa caro e provoca dor, perdas de preciosas vidas que tinham muito a produzir para a riqueza de nosso país.
O que me deixa mais frustrado é ver que os governantes estão preocupados em achar um culpado, prender possíveis responsáveis, mas pouco está sendo feito, e sabemos que praticamente nada será feito em termos práticos para assegurar que outras tragédias desta natureza se repitam... Os políticos sabem que o povo esquece rápido, logo teremos o carnaval, a copa, as olimpíadas... E tudo é esquecido, não existirão mais cobranças, tudo volta a ser festa.
Todos têm culpa, não é apenas o proprietário da boate, ou o artista que acionou o artefato pirotécnico... O governo tem culpa, pois não investe em legislação eficiente nem mesmo nas Corporações de Bombeiros por julgar que é muito caro e não resulta em votos, os Comandantes das Corporações Militares de Bombeiros tem sua parcela de culpa, pois mesmo sabendo não dispor de pessoal em número suficiente para fiscalizar e coibir irregularidades, assim mesmo estão empenhados em impedir que as Corporações de Bombeiros Voluntário-Civis façam a fiscalização nas localidades aonde não existe Bombeiro Militar, inclusive lutando contra a existência destas Corporações de Bombeiros Voluntário-Civis, a sociedade é culpada, quantas vezes nos negamos a participar de treinamentos de segurança contra incêndio na empresa, na escola, na associação de moradores por julgar desnecessários este tipo de atividade ou por “ter coisas” mais importantes para aquele momento, os frequentadores das festas também tem culpa, quem se preocupa com as condições de segurança nos eventos, inclusive no jargão popular “quanto mais socado a casa, mais show estava a festa”... Imaginem os Senhores como não deve estar degradante a segurança contra incêndio nas cidades aonde não existe nenhuma Corporação de bombeiros, se a exemplo de Santa Maria, nos demais municípios aonde existe uma Corporação de bombeiro a situação já é de descaso...
Mas ainda há uma esperança, se os legisladores realmente querem resolver o problema, devem criar leis que assegurem a implantação de sistemas de segurança contra incêndio em todas as edificações, além de exigir a presença de equipes de Bombeiros Civis em todos os eventos com concentração de pessoas, também deverá ser repensado o atual sistema de Corporações de bombeiros nas cidades, o ideal é que cada município instale seus quartéis de Bombeiros, o Governo do estado não tem como instalar e manter Corporações em todas as cidades, o custo com folha de pagamento principalmente de oficiais é muito caro.
Atualmente o Estado de Santa Catarina dispõe de um modelo de Corporação de Bombeiro com um custo bem mais acessível. São as Corporações de bombeiros Voluntários, onde toda a sociedade participa, o governo estadual fornece equipamento e uma ajuda financeira, as empresas e a comunidade investem com recursos financeiros, por meio de doações e recursos humanos, por meio dos bombeiros voluntários, o município fornece a edificação, equipamentos e combustível, enfim com esta tríplice participação toda a sociedade sai vitoriosa. Este é um modelo a ser seguido em todo o país, somente assim poderá ser reduzido o déficit de Corporações de bombeiros, pois atualmente 4.929 municípios brasileiros não possuem unidades de bombeiros.
“O homem é um animal racional dotado da incrível capacidade de fazer loucuras” – Robert Mcnamara (1916-2009).
*Samuel dos Santos, Presidente do Sindicato Trabalhadores Bombeiros Profissionais Civis de Santa Catarina
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